Criamos sentimentos piratas dentro de nós mesmos e, sem sentir, agimos automaticamente, sem pensar. Dizemos que um artista vive de shows e que o preço do produto original é abusivo, antes mesmo de buscarmos informação própria e concreta, achando nisso, uma boa desculpa só para pagar menos por menos. Não nos preocupamos com o fato de que, somente através da distribuição, este produto chega até nós e a outras pessoas como foi realmente criado, em diferentes lugares. E para haver distribuição, é preciso que venda. Em outras palavras, se adquiro um produto pirata de um artista que gosto, sem saber, estou enfraquecendo o prestígio profissional deste artista e, quem sabe, minando a continuidade de sua carreira.
É comum dizermos: “Do artistas que gosto, só compro original”. Mas fica difícil entender, visto que, se não gostamos de algo, porque iríamos comprar? Para aquilo que não gosto, qualquer preço é alto.
Tomemos cuidado com a auto-pirataria de cada dia.
Nossa necessidade de grandeza está em não sabermos onde escondeu-se nosso amor próprio. Por isso, pirateamos a auto-estima comprando roupas de marca, carros potentes, adornos finos e até pessoas, achando que, assim, tornarmo-nos mais poderosos e superiores. Não há nada de errado em ter conforto e prazer e é sabido que, muita vez, é preciso pagar para isso. Porém, a razão de se obtê-los é que deve ser medida.
Podemos piratear o amor afetivo. Dizemos que amamos alguém, mas antes de amar-se, quem poderia, realmente, sentir amor pelo outro? Amar-se significa querer-se bem. Então, se me quero bem, desejo estar com quem faz-me bem. Há pessoas que se juntam a verdadeiros carrascos e inventam desculpas para sua posição passiva diante de alguém que simplesmente lhes faz mal. Mulheres com homens ciumentos e inseguros, por exemplo, dizem amá-los, mentindo para si mesmas dizendo que é o jeito deles, sendo que, um pouco de amor próprio poderia abrir-lhes os olhos para o que fazem: piratear o bem estar afetivo. Há homens que fogem de si mesmos, para não encarar sua insegura capacidade de buscar auto-afirmação em encontros extraconjugais. Outra forma de piratear o próprio sentimento.
Nossas verdades pirateadas, muitas vezes, saem da TV, de revistas e de uma sociedade, quase totalmente, baseada em valores pouco sutis. Mas com um pouco de esforço, podemos ser nós mesmos. Aí sim, seremos originais.
Ser original é seguir passos que ninguém deu, é fazer o que se sente e não o que lhe induzem, aprender com vivências próprias e não com noções distorcidas e preconcebidas do certo e errado, ser o primeiro a aplaudir diante de algo que o emocionou, sem medo do silêncio alheio.
Você é um ser pirateado, com idéias impostas por sua criação, meio social e temores, ou é alguém disposto a apostar numa idéia mais alta, real e amorosa de si, a fim de tornar-se mais original?
Victor Chaves
Comunidade Anotações de Victor Chaves: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=44584300
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